POLÍTICAS PÚBLICAS EM EDUCAÇÃO E ESCOLA
DEMOCRÁTICA
Rodrigo BASTOS[1]
RESUMO: Este trabalho tem
como objetivo compreender o caminhar das políticas públicas em educação que
visam a construção de uma escola democrática, analisando o caminho histórico da
educação brasileira no período de redemocratização, observando como no processo
de pós-ditadura contribuiu para o desenvolvimento de novas políticas
educacionais.
PALAVRAS CHAVE: Políticas públicas; educação
contemporânea; escola democrática.
1.
INTRODUÇÃO
Tenho como objetivo neste artigo analisar o caminho
histórico da educação brasileira no período de redemocratização até a
contemporaneidade, observando como no processo de pós-ditadura contribuiu para
o desenvolvimento de novas políticas educacionais. Seguindo leis, emendas,
projetos e constituições, os movimentos buscaram um novo preceito de educação,
mais democrático.
A Constituição de 1988 e a Lei de Diretrizes e
Bases (LDB) 9.394/96 são consideradas pontos marcantes a favor da educação.
Também consideramos posturas ideológicas que foram adotadas na elaboração de
tais leis e na execução da educação atual, que é a ideologia neoliberal,
analisando-a e questionando-a em seus pontos positivos e negativos para a
educação contemporânea.
Por fim tratarei sobre como o modelo ideológico
neoliberal, amparado por leis e políticas públicas, é adotado até hoje nas
escolas públicas, desfavorecendo a educação de qualidade nessas instituições de
ensino ao comparar-se a instituições privadas.
Além disso, analisaremos os problemas citados
enfatizando sobre a subversão do professor como uma das possibilidades,
trazendo como eixo de discussão política Paulo Freire (2013).
2.
EDUCAÇÃO NO BRASIL
NO PERÍODO DE REDEMOCRATIZAÇÃO
O sistema educacional do período da ditadura
militar tinha como uma das suas principais características a arbitrariedade, considerando
todo movimento que pregasse uma educação popular, fora dos padrões
pré-estabelecidos pelos generais, como um movimento subversivo.
Além disso, a questão tecnicista, para a formação
de mão-de-obra qualificada para o trabalho nas indústrias, era mais um dos
fatores preponderantes nesse período. Ao final deste, outras relações começam a
serem criadas tanto política, quanto social, e o Brasil inicia um caminhar para
o movimento de redemocratização, que trouxe avanços e, de certa forma, alguns
retrocessos para o sistema educacional.
Segundo Aranha (2006a), o regime militar,
implantado em 1964, no início dos anos 1980 começa a perder forças e a
democracia gradualmente ganha espaço no cenário nacional. Em 1985 temos o
primeiro governo civil pós-ditadura, mas por meio de eleição indireta,
assumindo José Sarney, vice de Tancredo Neves, que morreu antes do mandato.
Para Ghiraldelli (2009), desde 1982 buscou-se
realizar políticas educacionais mais democráticas e essa educação foi de
autoria do PFL (Partido de Frente Liberal). O deputado Marco Maciel foi o
primeiro ministro da educação neste governo. Ele contou com um grande apoio
popular, isso graças aos benefícios que o novo plano econômico, o Plano
Cruzado, trazia ao país, principalmente com a baixa na inflação. “No seu
primeiro ano de funcionamento, tal plano teve sucesso e deu à aliança PMDB-PFL
um grande prestígio” (GHIRALDELLI, 2009, p. 167).
No entanto, a política era pouco criativa e deu
sequência à remendos técnicos, afetando toda a área do governo, inclusive o
Ministério da Educação. Essa gestão era de José Sarney e terminou de forma
triste, porque em seu último ano de governo houve uma alta inflacionária nunca
vista antes e, consequentemente colocou outras forças sociais no centro das
eleições. Aproveitando da ocasião, um jovem político do Estado de Alagoas entra
em cena, Fernando Collor de Mello que, ajudado pela poderosa Rede Globo de
Televisão, derrotou candidatos que haviam ganhado prestígio na luta contra a
Ditadura Militar e assumiu o Executivo em 1990, conforme diz GHIRALDELLI, 2009.
Seu tempo no governo deixou o país arruinado, visto
que, confiscou a poupança de todos os brasileiros, promovendo recessão
econômica. Sendo sua resposta como a única medida correta para conter a
inflação da gestão anterior, provocou falência de empresários e o desemprego,
prejudicando inclusive o MEC (Ministério da Educação e Cultura). Segundo
Ghiraldelli (2009, p. 168), “no meio dessa política caótica, investiu contra
setores de fomento à investigação científica, como o CNPq e a CAPES, até então
bem organizados. Sua política educacional foi conturbada e improdutiva [...]”.
De acordo com Ghiraldelli (2009), Itamar Franco
assumiu em 1992 o posto de Collor, quando o mesmo foi destituído do cargo por
Impeachment. O período de Itamar foi de reorganização estatal, tentando recriar
o MEC (Ministério da Educação e Cultura), do ponto de vista legal. Também
chamou várias forças para compor seu corpo de ministros tentando buscar um
governo mais amplo, o número maior de ministros veio do PSDB (Partido da Social
Democracia Brasileira), que já vigiava o governo de Collor desde o começo de
sua crise.
Sobre a educação fica evidente, na década de 1980,
o fracasso da reforma da LDB nº 5.692/71e a Lei 7.044/82 que “dispensava as
escolas da obrigatoriedade da profissionalização, retomando a ênfase na
formação geral.” (ARANHA, 2006a, p. 320). Um dos pontos debatidos foi o retorno
da disciplina de Filosofia na grade escolar que, mesmo sendo implantada de
forma optativa, mostra-se um grande avanço pela luta e pressão social por
melhorias na educação. Conforme relata Aranha (2006a, p. 320):
Pelo parecer
n°342/82do Conselho Federal da Educação deu-se um tímido recomeço em que a
Filosofia ressurgia como disciplina optativa. Nesse processo todo, nada foi
conseguido sem esforço, mas com trabalho intenso e pressão da sociedade civil.
Quanto à situação dos profissionais da educação, de
acordo com a autora, foram realizadas mobilizações em vários estados, que datam
desde 1978, a fim de recuperar as perdas salariais, além da luta para
regulamentar a carreira do magistério e condições dignas para exercer a
profissão. Dessa forma, com a análise das consequências da ditadura, era
preciso “[...] não só urgente valorização do magistério, mas a necessária
recuperação da escola pública, aviltada e enfraquecida naqueles anos todos.”
(Ibidem, 2006a, p.321)
Nesse contexto, surgem iniciativas oficiais
pós-ditadura, com a finalidade de solucionar os problemas do ensino público e
destacar medidas para reverter a situação e, para isso “era preciso buscar
situações corajosas e não meramente paliativas ou eleitorais” (Ibidem,2006a,
p.321).
Sendo assim, vemos que a problemática educacional
gerada pelos governos ditatoriais resultou em movimentos ideológicos que
buscavam a reestruturação de um modelo escolar voltado aos preceitos da
redemocratização.
Três grandes ações
foram realizadas no período pós-ditadura e que tiveram grandes repercussões
nesse período, dentre elas vemos: os Centros Específicos de Formação e
Aperfeiçoamento do Magistério (Cefams); Programa de Formação Integral da
Criança (Profic), que pretendia “oferecer jornada de tempo integral para as
classes de 1º grau, com o intuito de resolver problemas de evasão e de
repetência”; e os Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), que graças
aos prédios monumentais produzidos por Oscar Niemeyer, construídos com blocos
pré-fabricados, podia-se “acomodar mil crianças em horário integral em dois
turnos” (ARANHA, 2006a, p. 322).
Outro problema grave para a educação pública foi a
falta de continuidade dos projetos educacionais, visto que a cada mudança de
gestão governamental, mudam-se também as políticas educacionais, o que
dificulta estabelecer diretrizes pedagógicas, como afirma Cunha (1995, apud
Aranha, 2006a, p.323):
Os padrões de
gestão da rede pública que prevalecem são os que, à falta de melhor denominação
, chamo de administração ‘zigue-zague’:as mais diferentes razões fazem com que
cada secretário de Educação tenha seu plano de carreira, a sua proposta
curricular, o seu tipo de arquitetura escolar, as suas prioridades, assim os
planos de carreira, as propostas curriculares, a arquitetura escolar e as
prioridades mudam a cada quatro anos, frequentemente até mais rápido, já que
nem todos permanecem à frente da secretaria durante todo o mandato do
governador ou do prefeito.
Portanto, podemos dizer que a educação brasileira
no período da redemocratização caminhou muito no que diz respeito às leis, aos
movimentos idealizadores de reformas educacionais e ao acesso à educação para a
população, mas, mesmo assim, todos esses esforços não atingiram efetivamente o
esperado, principalmente no âmbito democrático da escola, haja vista toda
efervescência sobre a ruptura ditatorial e renascimento de padrões democráticos
no país. A educação transformou-se muito mais em uma ferramenta política, que
segue interesses partidários, o que acabou por destruir todos os ideais
propostos em torno da educação.
3.
A CONSTITUIÇÃO DE
1988
Com a democratização do país, em 1985, houve a
eleição de uma nova Assembleia Nacional Constituinte, onde um novo Parlamento deveria
produzir a nova Carta Magna juntamente com a Constituição imposta ao Brasil,
com isso houve mudanças e surgiu a Constituição Federal de 1988. Conforme
Ghiraldelli (2009, p. 169):
Na carta Magna de
1988, a Educação não veio contemplada apenas no seu local próprio, no tópico
específico destinado a ela, mas apareceu também espalhada em outros tópicos.
Assim, no título sobre direitos e garantias fundamentais, a Educação apareceu
como um direito social, junto da saúde, do trabalho, do lazer, da segurança, da
previdência social, da proteção à maternidade e à infância, da assistência aos
desamparados (artigo 6º). Também no
capítulo sobre a família, a criança, o adolescente e o idoso, a Educação foi
incluída. A constituição determinou ser dever da família, da sociedade e do
Estado assegurar à criança e ao adolescente o direito à Educação como uma
prioridade em relação a outros direitos.
De acordo com o autor, na parte própria destinada à
Educação, foi mencionado o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para a
cidadania e sua qualificação para o trabalho. O ensino passou a ser
obrigatório, gratuito, público e laico fornecido pelo Estado, só que, por não
poder legislar mais a fundo sobre a educação, propôs-se que fosse elaborada a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Nº 9.394 de 20 de Dezembro
de 1996).
Além disso, criaram também várias versões da LDB,
mas o resultado até então tinha sido uma mescla entre o projeto que ouviu a
população e o do Senador Darcy Ribeiro onde havia divergências relacionadas ao
ensino. Enquanto o texto da constituição (Art. 208, inciso VII, § 1º) frisava
“o acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo”, a LDB
mantinha a seguinte escrita: “o acesso ao ensino fundamental é direito público
subjetivo” (artigo 5º). “Todavia, de resto, muitos pontos da LDB de 1996 se
apresentaram positivos no sentido da melhoria de certas condições da educação”
(GHIRALDELLI, 2009, p. 172). Ambos os documentos não tratavam sobre escola
democrática, mas sim uma abertura democrática da escola, ou seja, escola que
atende todos de forma igual, não uma escola que escuta os anseios do povo.
Oliveira (1999, p.2) afirma que “o
artigo que detalha o Direito à Educação é o 208, formulado nos seguintes termos”:
O dever do Estado para com a educação será
efetivado mediante a garantia de:
I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito,
inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
II - progressiva extensão da obrigatoriedade e
gratuidade ao ensino médio;
III - atendimento educacional especializado aos
portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças
de zero a seis anos de idade;
V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da
pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequada às
condições do educando;
VII - atendimento ao educando, no ensino
fundamental, através de programas suplementares de material didático escolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde.
Ao analisarmos os deveres do Estado sobre a
educação, exposto na Constituição de 1988, é possível perceber certa
preocupação com a consolidação do ensino obrigatório e gratuito a todos, que
promoveria assim igualdade de condições e desenvolvimento escolar.
Porém, Aranha (2006a), ao analisar o
desenvolvimento da LDB 9.394/96 nos atenta ao fato do projeto ser vago demais,
principalmente no que diz respeito à educação pública de qualidade, além de
mostrar certo tom de autoritarismo em sua execução, já que conselhos
deliberativos, poderiamrepresentar interesses e anseios de alas sociais,
fazendo a LDB algo mais democrático, não foram convocados para auxiliar na
elaboração.
[...] criticado por
ser vago demais, omisso com relação a educação pública de qualidade e
autoritário em sua elaboração, pois privilegiou o arbítrio do Poder Executivo,
e dispensou as funções deliberativas de um Conselho Nacional com representantes
do governo e da sociedade (ARANHA, 2006a, p. 325).
A autora esclarece que, mesmo a constituição
vigente tendo como principais focos a igualdade de condições e direitos, a LDB
9.394/96 perde-se em contradições, as quais a tornam vaga demais para atender
os objetivos constitucionais. Enquanto a educação não se desvincular dos
valores e objetivos neoliberais, que pregam o Estado mínimo e entendem os
investimentos em educação pública como gastos desnecessários para o
desenvolvimento da nação, a escola brasileira continuará sendo utilizada como
divisor de águas na hierarquia social vigente, oferecendo escolas e ensino de
baixa qualidade para o povo, mantendo-o em situação subalterna e à mercê das
classes dominantes, enquanto a elite paga para receber educação de qualidade,
que a perpetuará no poder.
4.
LEI DE DIRETRIZES E
BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL – LDBEN 9.394/96
O projeto de LDBEN nº 9.394/96, proposto pelo
senador Darcy Ribeiro, que foi discutido e aprovado em 20 de dezembro de 1996,
segundo Aranha (2006a, p.325-326), resultou na nova Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional que, ao analisarmos alguns pontos pautando-se na autora,
entendemos que merecem destaque as seguintes observações:
§ Quanto à educação
profissional, esta não se encontra relacionada de forma obrigatória à escola
regular. Com a análise dos Artigos 36, parágrafo 4°: “a preparação geral para o
trabalho e facultativamente, a habilitação profissional poderão ser
desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio ou em cooperação
com instituições especializadas em educação profissional” (Ibidem, 2006a,
p.325).
§ Quanto à distribuição
dos recursos públicos, no Artigo 77, a lei regulamenta a destinação das verbas
apenas para as escolas públicas, podendo também atender a “escolas
comunitárias, confessionais ou filantrópicas, desde que comprovem finalidade
não lucrativa” (Ibidem, 2006a, p.325). Também oferece recursos para bolsas de
estudo, destinados a alunos da educação básica de baixa renda, quando a rede
pública não disponibilizar vagas.
§ Para a formação de
profissionais da educação básica, os Artigos 62 e 63 determinam “a exigência de
curso de nível superior, de graduação plena em universidades e institutos
superiores de educação, para substituir o curso de magistério e nível médio”
(Ibidem, 2006a, p.326), e ainda propostas de formação continuada e valorização
do professor.
§ No Artigo 23,
pode-se perceber o aspecto flexível da lei, permitindo que a educação básica se
organize “em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de
períodos de estudos, etc., o que supõe a ampla autonomia de cada escola, desde
que tenha em vista a avaliação da aprendizagem” (Ibidem,2006a, p.326).
De acordo com os estudos de Ghiraldelli (2009)
outro ponto importante da LDBEN nº 9.394/96 foi sobre o que deve ou não deve
ser ensinado nas escolas, dizendo que é para haver um núcleo comum para todo o
território nacional, com partes diversificadas e, devido a isso, surge no
Ministério da Educação os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que abordam
sobre cada tema determinado. A educação no período de redemocratização,
portanto, continua preocupada com a integração do indivíduo ao meio social a
partir de padrões pré-estabelecidos, não dando margem para o mesmo, seja ele
educando ou representante da comunidade escolar apresentar o que espera da
entidade.
Além disso,Aranha (2006ª, p.325) afirma que a LDB
foi “acusada de ser neoliberal, por não garantir a esperada democratização da
educação, sobretudo porque o Estado delegou ao setor privado grande parte de
suas obrigações”. Isso faz com que a educação no país, principalmente a técnica,
atenda exclusivamente os anseios das alas econômicas do país, tirando do povo
uma educação com fundo transformador de condições sociais, mantendo-o as
margens da hierarquia social.
Silva (2010) diz que enquanto o povo aprende nas
escolas públicas a trabalhar, o filho da elite é ensinado a comandar, a assumir
os cargos de chefia. Dessa forma, segundo o autor, a escola contribui para esse
processo não somente pelas disciplinas abordadas no currículo, como também
através da “reprodução das relações sociais de produção da sociedade
capitalista”. (SILVA, 2010, p.33).
Isso significa, segundo o autor, que o Estado
perdeu, propositalmente ou não, a oportunidade de realizar efetivamente ações
que possibilitariam a educação escolar e atender aos objetivos democráticos
estabelecidos na Constituição de 1988 e na LDBEN nº 9.394/96.
Mais uma vez
deixamos escapar a oportunidade de traçar as coordenadas e criar os mecanismos
que viabilizassem a construção de um sistema nacional de educação aberto,
abrangente, sólido e adequado as necessidades e aspirações da população
brasileira em seu conjunto. (Ibidem, 2008, p. 229)
Outro ponto
relevante contemplado pelo autor seria quanto às transformações da estrutura
educacional, apontando que a LDB: “embora não tenha incorporado dispositivos
que claramente apontassem na direção da necessária transformação da deficiente
estrutura educacional brasileira, ele, de si, não impede que isso venha a
ocorrer” (Ibidem, 2008, p. 238), o que nos dá, ainda, um pouco de esperança com
relação a possíveis mudanças na postura educacional, bastando apenas que os
ideais neoliberais de Estado mínimo e redução de custos com a educação
deixassem de ser predominantes no que diz respeito ao custo-benefício das
instituições públicas escolares. Para isso,
A abertura de
perspectivas para a efetivação dessa possibilidade depende da nossa capacidade
de forjar uma coesa vontade política capaz de transpor os limites que marcam a
conjuntura presente. Enquanto prevalecer na política educacional a orientação
de caráter neoliberal, a estratégia da resistência ativa será nossa arma de
luta. Com ela nos empenharemos em construir uma nova relação hegemônica que
viabilize as transformações indispensáveis para adequar a educação às
necessidades e aspirações da população brasileira. (Ibidem, 2008, p. 238)
Com a análise das posições de Aranha (2006ª) e
Saviani (2008) sobre a nova LDB, fica evidente a postura do Estado neoliberal
com relação à educação, onde este procura transferir ou compartilhar a
responsabilidade para outros setores, privada ou não-governamental, diminuindo
custos e investimentos públicos.
A questão da educação pública e de qualidade, que
atenda de forma satisfatória a todos os cidadãos brasileiros, pode até ser
citada ao longo da LDB, mas os valores neoliberais que nela ainda estão
inseridos não desvinculam a educação dos interesses econômicos vigentes,
fazendo com que o Estado preocupe-se muitas vezes mais com a redução de gastos
do que com a qualidade do ensino.
5.
O LIBERALISMO E A
EDUCAÇÃO BRASILEIRA
Logo após a Constituição de 1988, juntamente com a
preparação da LDB, houve diversos debates sobre uma nova lei que pudesse ser
colocada em prática (introduzindo assim a democratização do espaço escolar),
com isso surge várias entidades sindicais, científicas, estudantis, enfim,
segmentos relacionados à educação.
Esses acontecimentos foram frutos de confrontos
entre Estado e sociedade civil. Outro aspecto importante a ser destacado está
na Lei nº 10.172/2001, quanto à implantação doPNE (Plano Nacional de Educação),
em que os municípios deveriam elaborar seus próprios planos de acordo com sua
região. “A tramitação dessa lei partiu de dois projetos, um do MEC e outro da
sociedade civil, nos quais novamente se manifestaram conflitos de interesses.”
(ARANHA, 2006b, p. 298)
Novas providências foram tomadas na década de 90,
tais como: a formação de professores para educação à distância, a reforma
curricular nos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) e nas DCNs (Diretrizes
Curriculares Nacionais), os sistemas de avaliações (SAEB, ENEM e Provão),
providências estas que foram influenciadas por organismos internacionais, só
que sem considerar a contribuição de entidades nacionais, como as pesquisas
realizadas em universidades, por exemplo.
De acordo com Aranha (2006b) o Fundef (Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental) também não fugiu dessa
influência, uma vez que veio com o propósito de financiar, através de verbas, o
ensino fundamental nas três esferas (federal, estadual e municipal), porém ele
não aumentou, apenas redistribuiu entre os municípios mais pobres, conforme
orientação do Banco Mundial.
O que não deixa de
ser verdade, mas constrangedor, quando se descobre se tratar, entre outros, de
municípios do Nordeste em que os salários mensais eram tão baixos que, ainda
com o aumento, os valores continuam irrisórios. (ARANHA, 2006b, p. 299)
Conforme diz Aranha (2006b), em 1960, Anísio
Teixeira propôs um piso mínimo salarial para professores, na medida em que se
preocupava com a qualidade do trabalho docente, conseguindo aumentar em 7% o
PIB (Produto Interno Bruto), sendo que em outros países o investimento foi
maior. Isso deixa claro quanto desconsiderada tem sido a educação para o
Brasil, não sendo vista como meta prioritária. “Porque apenas assim poderemos
perceber o fosso que nos separa de uma verdadeira revolução no ensino que o
torne universal, gratuito e de qualidade” (ARANHA, 2006b, p. 299).
A autora ainda nos mostra que, com a promulgação da
LDB de 1996, a formação de professores para educação básica obteve avanço, como
mostra nos artigos 62º e 63º, ao se referir à exigência de um curso de nível
superior, graduação plena em universidades e institutos, substituindo o antigo
Magistério (Normal). Houve um progresso quanto a cursos de educação continuada,
no entanto algumas dúvidas quanto à exceção de que na educação infantil e
fundamental I, continuasse sendo oferecida a modalidade normal, não deixando
claro onde seria permitida isso.
Portanto, podemos concluir que é preciso investir
sempre na formação inicial e continuada dos professores, garantindo também uma
melhor remuneração ao seu trabalho, pois na atual sociedade temos visto a
constante desvalorização do profissional da educação fazendo com que muitos
desistam da profissão.
Ao analisarmos tal problemática que cerca a
educação brasileira (considerando a desvalorização da profissão e do âmbito
escolar), pensamos na questão ideológica e nas disputas de interesses e
objetivos traçados para a educação nas escolas, analisando a trajetória
histórica da educação do país, nota-se maior efervescência ideológica
principalmente no século XX, que ainda se perpetua na contemporaneidade.
Conforme cita Aranha (2006b, p.295):
O século XX foi
especialmente fecundo em teorias pedagógicas, voltadas para ênfases diversas,
entre as quais, o aperfeiçoamento dos procedimentos de alfabetização e de
aprendizagem, a universalização da oferta de vagas ou a defesa da escola
unitária.
Porém, o pluralismo de ideias e interesses desse
período fizeram com que, ainda hoje, algumas ideologias se sobressaíssem.
Analisaremos, sem muito aprofundamento algumas delas, pois mesmo não sendo o
tema principal do trabalho, tais vertentes ideológicas caminham quase que
inseparavelmente aos objetivos que determinadas classes sociais tem em relação
a educação.
Pensaremos primeiro sobre a ideologia liberal,
adotada pelos países ditos de primeiro mundo, como Estados Unidos da América e
outros países da Europa (como Alemanha, Inglaterra, França, entre outros).
Foram estes os precursores do modelo educacional que conhecemos, e conforme
Aranha (2006b) nos atenta possuem as seguintes características:
De maneira geral
podemos dizer que a educação liberal reflete os ideais da burguesia e enfatiza
o individualismo e o espírito de liberdade. A valorização da capacidade de
autonomia e de conhecimento racional, otimismo em relação à possibilidade de a
razão humana transformar o mundo. (ARANHA, 2006b, p. 194)
Conforme a autora, entendemos que a valoração dos
ideais individualistas e do espírito de liberdade, principalmente liberdade
econômica, faz com que os liberais enfatizem o trabalho do indivíduo,
aparentemente acreditando que todos, originalmente, possuem as mesmas condições
de progredir e superar os obstáculos, já que isso dependerá quase que
exclusivamente da capacidade racional do ser.
Pensando no Estado democrático implantado pelos
liberais, conforme nos atenta Aranha (2006b), tivemos muitos avanços, como a
criação das escolas públicas gratuitas para a população, entretanto a
implantação dessas instituições, nos ambientes liberais, preocupa-se muito mais
com a questão da ampliação de oferta, atendendo ao direito de todos ao ensino,
mas deixa-se em segundo plano a questão da educação de qualidade, sendo esse um
dos, se não o maior, ponto de desigualdade escolar.
Nesse aspecto enfatiza-se que:
No século XIX os
Estados Unidos e vários países da Europa conseguiram implantar a escola
pública, laica e gratuita. Desde então, os esforços tem sido o de ampliação da
oferta, embora nos países periféricos, como no Brasil, ainda sejam registrados
altos níveis de exclusão. Daí a demanda de uma legislação para sistematizar e
democratizar o ensino, de verbas que viabilizem o trabalho dos professores, de
educação com qualidade extensiva a todos. Mas, bem sabemos, nas sociedades
liberais o ensino de qualidade tem permanecido elitista, restrito a poucos.
(Ibidem, 2006b, p. 296)
Para a autora no estado democrático, onde todo
indivíduo, teoricamente, tem os mesmos direitos e deveres, a questão da escola
pública, assim como toda instituição estatal (pensando no ponto de vista
liberal) mostra-se cada vez mais inclinado ao fracasso, este aparentemente
premeditado, visando assim manter o status
quo vigente, ou seja, mantendo o rico como rico e pobre como pobre.
A oferta de escola para todos, sem genuína abertura
democrática para a troca de ideias (isso em diversos âmbitos, e em especial o
das comunidades escolares), nada mais é do que uma máscara de igualdade, e a
escola privada, seguindo esse modelo, sempre se sobressairá na função
educacional, pois esta sim defende um interesse e um objetivo, o das classes
dominantes.
[...] As propostas
de privatização global do ensino, porém, encontram objeções, sobretudo porque,
nas sociedades de economia de mercado, existe o risco de se visar mais ao lucro
e não aos interesses educacionais, além de se restringir o acesso aos que não
podem pagar. (Ibidem, 2006b, p. 296)
Tal crítica de Aranha (2006b), foi bem embasada
principalmente pelos anarquistas vindos de países europeus para o Brasil no
século XX que, contrários inclusive a intervenção estatal e de instituições não
governamentais a educação, criavam suas próprias escolas no país, que sem
seguir padrões curriculares pré-determinados por governantes, desenvolviam um
trabalho que visava promover nas classes populares o espírito que consideravam
genuinamente revolucionário e auto libertador.
Com a vinda dos
imigrantes, sobretudo italianos e espanhóis, as ideias anarquistas fertilizaram
o movimento operário com a organização sindical e a divulgação das concepções
libertárias por meio de jornais e outras atividades culturais, como centros de
estudos, bibliotecas e escolas, que floresceram principalmente nas primeiras
décadas do século XX. [...] Contrários à intervenção do Estado e da Igreja,
esses anarquistas criaram diversas escolas espalhadas pelo país [...] No final
da década de 1910, intensificou-se a repressão ao movimento operário e, consequentemente,
à livre expressão dos ideais libertários. (Ibidem, 2006b, p.251)
Observamos, desta forma, que a postura dos
anarquistas em relação a educação popular, seria mostrar ao povo como se
libertar das amarras que o falso liberalismo os oferecia, nos atentando que:
[...] sempre
denunciaram o beco sem saída que significava a mediação do Estado. [...] Para
eles, o Estado liberal, embora prometa, jamais investirá de fato na educação
para todos, pois isso daria chances à população de tomar consciência clara da
desigual distribuição dos bens produzidos. (Ibidem, 2006b, p. 296)
6.
ALGUMAS REFLEXÕES
SOBRE O PERÍODO
Observamos que as restrições governamentais não se
baseiam em reformas que contemplem a qualidade da educação e nem mesmo a
inclusão de todas as classes sociais, sejam eles quaisquer segmentos, e embora estiver
incluído na escola, não significa ter a garantia dá permanência e nem do acesso
ao conhecimento.
Cada vez mais vemos confirmar-se o
distanciamento existente entre a escola pública e privada, o distanciamento ao
acesso das classes minoritárias à qualidade educacional. Nem mesmo as leis e
reformas estão sendo suficientes para diminuir essa distância, já que estão
pautadas em um modelo estritamente neoliberal.
7.
Olhar crítico para
a educação brasileira e as políticas públicas voltadas a ela no ensino
contemporâneo.
Entendendo que não podemos contar com a boa vontade
das elites que governam o país e detém o poderio ideológico da educação é
importante pensar que está na mão dos educadores buscarem meios que subvertem
as práticas educacionais vigentes, e assim aplicar genuinamente uma educação
democrática e democratizante.
Freire (2013) em sua obra Pedagogia do Oprimido
reflete sobre um modelo pedagógico que segue um novo olhar sobre o relacionamento
entre professor, estudante e sociedade, enfatizando que o contato entre
educador e educando apresenta um conteúdo quase morto, sem diálogos e fixado na
estrutura da educação liberal. A ênfase está no educador “encher” os educandos
de conteúdo, dissertando algo alheio as suas experiências. Segundo Freire
(2013, p. 80):
Por isto mesmo é
que uma das características desta educação dissertadora é a “sonoridade” da
palavra e não sua força transformadora. Quatro vezes quatro, dezesseis; Pará,
capital Belém, que o educando fixa, memoriza, repete, sem perceber o que
realmente significa quatro vezes quatro. O que verdadeiramente significa
capital, na afirmação, Pará, capital Belém [...]
Essa narração, nada mais é do que uma memorização
mecânica do conteúdo, onde educadores realizam apenas um ato de depositar. Tal
ato da educação bancária, que favorece quase que exclusivamente essa
memorização mecânica, deixa de lado a subjetividade do aluno, e assim, sua
capacidade de desenvolver argumentos críticos sobre o assunto estudado. Não é
preciso ensinar a pensar, questionar e debater, mas sim memorizar e executar de
forma mecânica e sistêmica.
Segundo
Freire (2013), no lugar da comunicação, entram os “comunicados”, meros
depósitos para que memorizem e repitam pacientemente. Daí surge a concepção
“bancária” da educação, em decorrência do que se oferece aos educandos
(depósito, guardar, arquivar). Assim,
Na visão “bancária”
da educação, o “saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam
nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da
ideologia da opressão – a absolutização da ignorância, que constitui o que
chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no
outro. (Ibidem, 2013, p. 81)
Segundo o autor, essa visão bancária minimiza os
educandos, estimulando os opressores a satisfazer seus interesses em
transformar a mentalidade dos oprimidos, adaptando-os a uma situação de
dominação, ou seja, desfavorece qualquer pratica democrática da educação. Os
oprimidos são marginalizados e tratados como se estivessem fora, mas a verdade
é que sempre estiveram dentro; a solução está apenas em integrá-los para que
não sejam “assistidos”, mas que possam tornar “seres para si”.
Como visto anteriormente a LDB 9.394/96, elaborada
por Darcy Ribeiro, foi acusada de neoliberal por preocupar-se mais com a
situação econômica do país do que com a qualidade de ensino. Conforme Aranha
(2006a, p.323) ao nos atentar que a elaboração do projeto de lei seguia um
padrão de “alto investimento requerido provocaria uma distorção, ao concentrar
recursos para poucos, desqualificando o ensino da maioria”, nos permitindo
concluir que, mesmo pensando em uma educação inclusiva, que atenda a todos, a
ideia proposta pelo sistema é que o aluno frequente a escola.
Seguindo essa lógica, o aluno que tem a
oportunidade de frequentar a escola pública estaria usufruindo do mesmo direito
do aluno que frequenta a escola privada, mas como Aranha (2006b) já havia
afirmado, a ideia dos liberais está muito mais voltada na questão da ampliação
de oferta e atender ao básico de frequentar o espaço escolar do que fornecer
educação de qualidade a todos.
Analisado a constituição de 1988, Art. 206, vigente
até então, vemos que o primeiro tópico, “igualdade de condições para o acesso e
permanência na escola”, está diretamente ligado ao argumento de Aranha (2006b)
citado anteriormente. O objetivo primário é igualar o acesso à escola, mas o
fracasso escolar mostra-se evidente, quase que de forma planejada, quando consideramos
as condições e estruturas dadas aos espaços públicos de ensino, que sem
recursos financeiros e matérias de qualidade são prejudicados no processo de
ensino aprendizagem. A Constituição prevê no Art. 206 "a igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola." (BRASIL, 1988)
Entendendo que um dos principais problemas das
políticas públicas para a educação atual é a falta de compromisso do Estado no
que se refere a oferecer condições à escola pública, condições estas
diretamente ligadas à parte econômica e sacramentadas a partir das leis,
pensemos como educadores e, a partir de olhares críticos de educadores
contemporâneos como Paulo Freire (2013) e Mário Sergio Cortella (2009),
adotemos posturas e práticas que possam nos ajudar a subverter o modelo e as
condições impostas a nós, como docentes, para a nosso desempenho.
A arma do educador para a mudança do status quo vigente é o conhecimento,
vejamos como Cortella (2009) e Freire (2013) nos orientam para a prática
docente emancipadora e libertadora, trabalhando a questão do conhecimento.
O conhecimento é por vezes tratado como algo
acabado e muitos educadores ensinam o modo como ocorre, sem ao menos atentar-se
ao processo que se faz para o conhecimento científico, uma vez que algumas
pessoas tratam cientistas como divindades, acreditando cegamente no dizem e
considerando correto, ou apenas demonizando-os.
Além disso, a tecnologia atualmente ajuda
significativamente nesse processo, pois oferece diversas opiniões acerca de
quaisquer assuntos, levando pessoas a crer no que veem ou ouvem. De acordo com
Cortella (2009, p. 86):
Quando um educador
ou uma educadora nega (com ou sem intenção) aos alunos a compreensão das
condições culturais, históricas e sociais de produção do conhecimento, termina
por reforçar a mitificação e a sensação de perplexidade, impotência e
incapacidade cognitiva.
Todos os conhecimentos, por mais estáveis e exatos
que sejam, precisam dar condições à sua configuração, ou seja, “o conhecimento
é fruto da convenção, isto é, de acordos circunstâncias, que não
necessariamente representam a única possibilidade de interpretação da
realidade” (CORTELLA, 2009, p. 87).
Já que os seres humanos são capazes de estruturar
conceitos e termos que representem um conhecimento sobre o mundo a partir da
prática docente libertadora, é possível que nós, educadores, demos bases
ideológicas de resistência para que os educandos percebam que são capazes de
emancipar-se a partir da educação.
Nesse processo, segundo Freire (2013), a relação
entre educador-educando mostra-se como ponto chave ao fugir do tradicional
empregado pela educação bancária e narradora, dando voz ao educando como agente
ativo do processo ensino-aprendizagem, e assim construindo realmente a escola
democrática.
Quanto mais analisamos as relações
educador-educandos, na escola, em qualquer de seus níveis, (ou fora dela),
parece que mais nos podemos convencer de que estas relações apresentam um
caráter especial e marcante – o de serem relações fundamentalmente narradoras, dissertadoras.
Narração de conteúdos que, por isto mesmo, tendem a
petrificar-se ou a fazer-se algo quase morto, sejam valores ou dimensões
concretas da realidade. Narração ou dissertação que implica num sujeito – o
narrador – e em objetos pacientes, ouvintes – os educandos. (Ibidem, 2013, p.
79).
Quando não se dá espaço ao educando expor suas
hipóteses sobre o conteúdo trabalhado, ocorre a privação do direito do
indivíduo de dialogar com o que aprende, de construir seu próprio olhar crítico
sobre o assunto. Tal postura educacional leva a alienação, acreditando em tudo
o que recebe como verdade absoluta e que está fadado ao fracasso não só
escolar, como também a nunca sair da situação de oprimido que está.
O educador, que aliena a ignorância, se mantém em
posições fixas, invariáveis. Será sempre o que sabe, enquanto os educandos
serão sempre os que não sabem. A rigidez destas posições nega a educação e o
conhecimento como processos de busca. (Ibidem, 2013, p. 81)
Portanto, seguindo a ideia de educação libertadora
defendida por Freire (2013), devemos nos desvincular da educação dominadora,
que tem quase como um mantra argumentativo justificar o fracasso escolar do
povo na ideia de que todos possuem os mesmos direitos à educação, sendo o
Estado agente ativo para isso, o qual oferece escola pública gratuita a todos,
mesmo que de baixa qualidade, sendo isto irrelevante, pois segundo os preceitos
neoliberais a razão humana supera qualquer obstáculo e iguala as condições sociais
(Aranha, 2006b).
Que não caiamos em tais premissas falaciosas, que
maquiam a prática de dominação e doutrinamento, assim como não esperemos que
tais práticas sejam reajustadas pelas elites dominantes, que as têm como trunfo
de alienação. Freire (2013), em pensamento genial, atenta-nos a tal
problemática e norteia-nos a um novo caminhar, focado na real postura humanista
e libertadora.
A educação como prática da dominação, que vem sendo
objeto desta crítica, mantendo a ingenuidade dos educandos, o que pretende, em
seu marco ideológico, (nem sempre percebidopor muitos dos que a realizam) é doutriná-los
no sentido de sua acomodação ao mundo daopressão.Ao denunciá-la, não esperamos
que as elites dominadoras renunciem à sua prática. Seriademasiado ingênuo
esperá-lo. Nosso objetivo é chamar a atenção dos verdadeiros humanistas para o
fato de que eles nãopodem, na busca da libertação, servir-se da concepção
“bancária”, sob pena de se contradize remem sua busca. (Ibidem, 2013, p. 92)
Aos educadores, mesmo com todas as barreiras
políticas, ideológicas e financeiras a nossa frente, nunca se deve perder a
esperança na educação e devemos nos entender como agentes de combate a opressão
sofrida pelo povo, pois o professor, principalmente da rede pública de todo o
território brasileiro, também faz parte do povo e também é oprimido
diariamente. Ser educador é entender que sua melhor arma de combate às
desigualdades sociais é o intelecto e, manter-se sempre confiante em seu
trabalho e em sua conduta de educador é o que pode transformar e virar esse
jogo.
8.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Quando consideramos que a educação dualista ainda
mostra-se predominante na educação contemporânea entendemos que as escolas
técnicas são destinadas ao povo, ensinando-o a trabalhar, a ser funcionário,
enquanto as elites ainda tinham educação privilegiada, de dominação, mantendo
assim a hierarquia social.
Temos um modelo de ensino empregado por elites e
para atender aos seus interesses, principalmente econômicos, e nesse contexto,
precisamos nos debruçar a entender como funciona a educação atual, quais os
aparatos legais de seu funcionamento e o caminhar por uma escola de qualidade e
igualitária, uma vez que já temos o entendimento que as políticas públicas para
a educação favorecem quase que exclusivamente a grande industrias, doutrinando
o povo para atender as demandas do mercado de trabalho.
Diante disso notamos que, pensamentos e ideologias
dominantes, em especial a neoliberal, a qual é adotada atualmente nas escolas
públicas e, com base na afirmação de Aranha (2006b), essa ideologia enfraquece
a qualidade da educação nas escolas públicas em comparação com as escolas
privadas.
Entendemos que esse argumento é o ponto chave, já
que as elites atuais, as quais seguem a vertente ideológica neoliberal para
manter a educação pública em baixo nível e sem qualquer espaço para debates
democráticos, e em contrapartida focam-se no argumento de que precisamos
inserir todos na escola e desconsidera a qualidade da educação.
Diante do exposto, sabemos nós, como educadores,
temos que reagir à altura, buscando métodos que qualifiquem nosso trabalho e
auxiliem os alunos a fugirem do trágico destino que os espera.
Pensaremos em alternativas de subversão, buscando a
emancipação dos alunos e, consequentemente da classe popular, para essas
amarras impostas ao ensino público de qualidade. A
ideia de educação libertadora, defendida por Freire (2013), apresentou-se como
argumento base, pois, se de um lado não solucionar a problemática da
desigualdade social, por outro possibilita o norte para alcançar um olhar
diferenciado sobre a função de educador, com caráter humanista e libertador,
deixando de lado as falácias neoliberais de educação de qualidade e tomando
como foco a perspectiva humana, que supera e iguala as condições sociais.
Entendemos que teremos condições iguais
apenas quando superarmos as barreiras políticas, ideológicas e financeiras que
impedem a prática docente, nunca perdendo a esperança no ato de educar e, mesmo
que a condição de seres racionais nos iguale, como afirmam os liberais, as
conjunturas físicas e de infraestrutura segregam, diminuem as condições e
desqualificam o trabalho emancipador do professor.
Mas apesar de tudo, é preciso que o
educador entenda que sua arma de combate às desigualdades sociais é o intelecto
e, a partir disso, elabore um trabalho que vise quase como uma obrigação
diária, subverter o sistema, equiparar as condições educacionais e promover
ensino de qualidade.
Pois bem, se a ideia parece utópica,
viveremos de utopias, sempre acreditando que é possível, mas o improvável ainda
depende de nossa prática e dedicação ao próximo.
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de identidade: uma introdução ás teorias do currículo. 3.ed. Belo
Horizonte: Autentica, 2010.
[1]Graduação em História, Especialização em
Orientação, Supervisão e Inspeção Escolar pela Instituição Faculdade de
Educação São Luiz; E-mail do autor: rodrigo.f.p.bastos@gmail.com; Orientadora:
Profa. Dra. Lucia Helena Vasques.