O artigo em
análise: “Aprendizagem e Desenvolvimento na perspectiva Interacionista de
Piaget, Vygotsky e Wallon”, de Enedina Silva do Carmo e Noemi Boer, apresenta perspectiva
teórica no campo educacional, visando o desenvolvimento e aprendizagem da
criança à luz dos pressupostos defendidos por Piaget, Vygotsky e Wallon.
Esse
trabalho objetiva expor as abordagens desses autores, analisando as semelhanças
e diferenças e suas contribuições na área pedagógica, considerando o indivíduo
de forma integral e suas ações no processo de construção do conhecimento.
Segundo
Piaget, o indivíduo estabelece relação de interação com o meio em que vive a
partir do nascimento, promovendo seu desenvolvimento cognitivo. Esse
desenvolvimento ocorre por meio de estágios, de forma sequencial, sendo que
através de um progresso constrói-se uma estrutura seguinte mais complexa que a
anterior. Esses estágios são divididos em: período sensório-motor (0-2 anos),
em que a criança sente objetos para compreendê-los; período pré-operacional
(2-7 anos), caracterizado pelo egocentrismo e pelo desenvolvimento da linguagem
e atividades mentais simbólicas; período operatório (7-12 anos), onde a criança
inicia a atividade escolar, começando a aderir o pensamento crítico, ainda com
dificuldade de pensar independente de sua intuição.
A
inteligência é um processo de adaptação biológica. Essa adaptação engloba dois
conceitos relevantes e necessários para sua realização: a assimilação e a
acomodação, sendo que o primeiro se dá através do contato com o meio e com o
objeto, extraindo informações e interpretando-as; o segundo é o processo de
internalização, modificando a estrutura cognitiva. Dessa forma, a criança é
capaz de adquirir uma posição que se adapte as exigências do meio, resultante
de sua interação com o contexto social.
Epistemologia
genética é um campo de investigação criado por Piaget, que define uma teoria do
conhecimento com foco no desenvolvimento natural da criança, considerando os
estágios de desenvolvimento, do nascimento à adolescência.
A
abordagem piagetiana não possui característica pedagógica, mas contribui na
prática de educadores.
Segundo
Vygotsky, o desenvolvimento do indivíduo é resultante de um processo sócio
histórico, com ênfase na linguagem e na aprendizagem. O indivíduo adquire o
conhecimento pela interação com o meio – corrente sócio interacionista, onde a
aprendizagem possibilita o processo de desenvolvimento. Dessa forma, Vygotsky
não aceitava as correntes de pensamento de sua época, a inatista e a empirista.
Vygotsky
procura compreender a origem e o desenvolvimento dos processos psicológicos
assumindo uma posição de caráter genética. Essa abordagem genética é
constituída de quatro níveis: a filogênese referente às características gerais
da espécie; a ontogênese, referente à história do sujeito; a sociogênese, onde
a cultura funciona como alargador do desenvolvimento; e a microgênese, referente
a questões particulares do indivíduo em cada momento de sua vida. A articulação desses níveis interage na
construção de processos anteriores.
Defende
a ideia que a aprendizagem ocorre quando as informações são significativas e
desafiadoras para o sujeito, atuando na zona de desenvolvimento proximal, que
pode ser definida como a distância entre aquilo que uma pessoa pode fazer sozinha
– nível de desenvolvimento real – e o que ela pode vir a fazer com a mediação
de outro experiente – nível de desenvolvimento potencial. Ao aprender com o
outro, é possível a construção do conhecimento, promove o desenvolvimento mental,
passando de um ser biológico ao ser humano.
Aprendizagem
e desenvolvimento, na teoria sociointeracionista de Vygotsky, são processos
interligados, o desenvolvimento só ocorre por meio da aprendizagem. Dessa forma
o ambiente escolar é essencial para a construção do ser psicológico adulto.
Para isso é fundamental que o professor conheça o nível de desenvolvimento da criança,
para que a aprendizagem amplie o universo mental do aluno.
A teoria de Wallon considera a psicologia
genética e interacionistado desenvolvimento. A psicologia genética pode ser
entendida como o estudo das origens dos processos psíquicos. Wallon estuda a
criança contextualizada nas relações com o meio, levando em conta aspectos
afetivos, motores e a inteligência no processo de desenvolvimento. Esse processo
de desenvolvimento é dividido em cinco etapas, onde predominam alternadamente a
afetividade e a cognição. São eles: o impulsivo-emocional (0-1 ano),
caracterizado pela emoção na relação da criança com o meio; o sensório-motor
(1-3 anos), desenvolvimento da função simbólica e da linguagem e exploração do
mundo físico; o personalismo (3-5 anos), formação da personalidade, fase
egocêntrica; o categorial (6-11 anos) consolidando-se a função simbólica e
avanços no plano da inteligência; e a predominância funcional, marcada pela
crise pubertária.
Wallon
defende a ideia de interação entre a psicologia e a pedagogia, onde uma pode
auxiliar a outra, sendo que a pedagogia ofereceria campo de observação à
psicologia e esta, por sua vez, ofereceria contribuições à prática pedagógica,
com conhecimentos sobre o processo de desenvolvimento.
Esse teórico é conhecido como o
educador integral, pois considera não só o corpo da criança no processo de
aprendizagem, mas também suas emoções acreditam que a inteligência, o
movimento, a afetividade e a formação do eu como pessoa são aspectos essenciais
que se comunicam a todo tempo.
A
proposta de Wallon põe o desenvolvimento intelectual dentro de uma cultura mais
humanizada. Defende que formas
diversificadas de se trabalhar com as atividades pedagógicas, não se limitando a
conteúdos, e sim atingindo várias dimensões que compõem o meio, ajudando a
criança a descobrir o eu no outro, relevante em seu desenvolvimento. A escola
como um ambiente que possibilita uma vivência social diferente, desempenha
papel importante na formação da personalidade da criança.
Para
o desenvolvimento completo da pessoa, a teoria de Wallon define um meio
flexível, que permite a motricidade da criança, onde manifestam suas emoções. Materiais
variados para atividades lúdicas e pedagógicas devem ser disponibilizados. Dessa
forma condena salas rígidas e imóveis, que restringe o aluno a expressar-se e
pensar.
Ao
analisar as teorias expostas, é possível fazer um levantamento, apresentando as
semelhanças e diferenças nas abordagens dos autores. Quanto às semelhanças, os
três teóricos enfatizam a relação do sujeito com o meio no processo de
aprendizagem e desenvolvimento; Piaget e Wallon acreditam que o desenvolvimento
se dá por meio de etapas, desde o nascimento à adolescência; Vygotsky e Wallon
consideram o desenvolvimento humano por meio de sua interação com o ambiente;
para Vygotsky e Piaget, as brincadeiras são essenciais no desenvolvimento: o
“faz-de-conta” de Vygotsky corresponde ao jogo simbólico de Piaget.
Quanto às
diferenças, é possível apontar que, para Piaget, quando mais a criança se
desenvolve mais ela aprende e a aprendizagem é um processo dirigido pelo aluno;
já Vygotsky declara que quanto mais a criança aprende mais ela se desenvolve e
a aprendizagem é mediada pelo professor. Outra diferença está em Wallon, onde
sua teoria é voltada para a psicogênese da pessoa completa e Piaget para a
psicogênese da inteligência; Vygotsky define sua teoria como sócio-cultural,
com ênfase na linguagem; já Wallon define como sócio-afetiva, destacando a
emoção.
Diante do
exposto, é fundamental considerar a importância dos estudos desses teóricos na
formação docente, pois suas abordagens contribuem de forma efetiva na prática
educativa, permitindo ao professor conhecer o aluno e sua realidade, entender a
criança e agir em cada fase da mesma, como o educando é capaz de construir seus
conhecimentos, planejando assim, métodos e estratégias que condizem de forma
significativa durante a aula. É preciso considerar a relação da criança com o
meio como uma ferramenta que permite a aquisição do conhecimento, e essa
aquisição é um processo de construção contínuo do ser humano.
A análise das
teorias permite compreender a postura do professor na sala, já que o educador
desempenha papel importante no processo do aprendizado. Entender o aluno como
um copo vazio ou que nasce com características pré-determinadas é um equívoco,
e os autores em estudo contrariam esses pressupostos. Dessa forma, é necessário
refletir sobre a ação docente, entendendo a aluno de forma integral,
considerando suas emoções, como defende Wallon, e mediando o processo de ensino-aprendizagem,
propondo situações desafiadoras para os alunos, como afirma Vygotsky, com a
finalidade de promover o desenvolvimento e a aprendizagem de forma
significativa.
Rafaela Angeloni
Referência Bibliográfica
CARMO, E. S.,
BOER, N.Aprendizagem e Desenvolvimento na perspectiva Interacionista de Piaget,
Vygotsky e Wallon. Disponível em:< http://jne.unifra.br/artigos/4742.pdf
> Acesso em 19 de outubro de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário