terça-feira, 1 de março de 2016

RESENHA: A presença do diálogo na relação professor-aluno.


O artigo relata a interação entre professor e aluno, embasado na Pedagogia Dialógica de Paulo Freire, considerando perspectivas literárias, psicológicas, sócio-históricas e afetivas, a fim de entender suas influências no processo de aprendizagem.
Por interação, compreende-se o processo de mudança temporária de comportamento entre as pessoas através de suas relações, de forma contínua e dinâmica. A escola assume papel relevante nessa interação, sendo um ambiente onde o aluno é capaz de apropriar e adquirir conhecimentos, o prepara para conviver em sociedade e qualifica-o para o trabalho.
O diálogo é um condicionante cultural importante para a interação professor-aluno, é um intercambio e reflexão entre os sujeitos. Segundo Freire, o dialogo “nutre-se de amor, humildade, esperança e fé”. Dessa forma, essa interação entre diálogo e afetividade resulta em respeito aos alunos, como indivíduos. A afetividade influencia na formação do caráter, constitui a base das relações das pessoas durante a vida. Portanto, os laços de afetividade são fundamentais na relação professor-aluno, importantes e necessários no processo de ensino-aprendizagem.
A aprendizagem através do diálogo não ocorre de forma espontânea, pois exige que o professor tenha conhecimento da turma e implica que as pessoas estejam abertas a novas formas de pensar, ver o mundo. A fim de que a aprendizagem ocorra de forma significativa, o professor deve reconhecer sua função na interação com os alunos: apresentar condições favoráveis para a construção do conhecimento, partindo de saberes prévios dos alunos; incentivar o aluno, estimulando o autoconceito; respeitar as limitações dos alunos, favorecendo uma relação pautada no respeito mútuo.
A relação professor-aluno centrada no autoritarismo, na ameaça, controle e punição provocam resultados opostos aos defendidos pelos princípios democráticos. Esses princípios favorecem aos alunos agir com autoconfiança, autoestima, autocontrole e capacidade de iniciativa autônoma. Nesse contexto, o professor deve saber fazer o uso da autoridade na sala de aula. Ao cobrar obediência, aplicando vontades e valores próprios, resultará em sentimentos de medo por parte dos alunos.Ao manter relação de respeito mútuo, terá autoridade por competência. Dessa forma o professor será capaz de solucionar conflitos pedagógicos por meio das relações fundamentadas no diálogo.
No primeiro contato de interação, com apoio nas observações, os professores desenvolvem expectativas sobre o rendimento dos alunos. Com a intensidade das interações no decorrer do período escolar, as expectativas podem ser mantidas ou reforçadas. Reforçadas quando as atuações são estáveis com as expectativas, e modificadas quando não são estáveis.
A distinção no tratamento educativo dos alunos, considerando a influência e controle maior no caso de “alunos bons” do que no caso dos “maus alunos”, estão determinadas no maior ou menor grau de atenção, nas oportunidades de aprendizagem, no tipo de atividade proposta e na quantidade e dificuldade do conteúdo. Nesse contexto, surgem os elogios e as críticas, para incentivar ou inibir o comportamento. O uso de elogios deve ser praticado de forma efetiva, apresentando-se coerente ao bom desempenho do aluno ou não produzindo efeito, quando usado indiferentemente.
Os alunos apresentam reações aos diferentes tratamentos educativos, confirmando as expectativas dos professores, aprendendo mais quando os educadores estimulam o desempenho. As expectativas dos professores atingem a aprendizagem, independendo da capacidade do educando.
As influências do comportamento de na relação professor-aluno merecem atenção especial, mesmo com tantos fatores extremos e internos presentes no processo educativo. As interações nessa relação são afetadas por representações recíprocas, não podendo ser restritas apenas ao processo cognitivo de construção do conhecimento, pois envolvem dimensões afetivas. Dessa forma o processo educativo é interativo, realizado entre professor e aluno, aluno e conhecimento, sendo o professor relevante no processo, mediador do conhecimento.
Diante do exposto, desenvolver pesquisas com a finalidade de entender as interações na sala de aula, auxiliam nas decisões e medidas para prevenir problemas educacionais e melhora a formação de profissionais. Considerando que a relação professor-aluno é influenciada por elementos sócio-históricos, como a oposição entre a fala impositora e a fala dialógica e as relações afetivas, durante o processo educativo, pesquisas revelam que a presença do diálogo no processo de aprendizagem é limitada a transmissão de conteúdos.
Levando em consideração que o diálogo é um fenômeno humano que busca refletir e mobilizar a ação dos indivíduos, a prática por meio do diálogo no processo educativo só é possível se o educador acreditar que essa prática “é o encontro no qual a reflexão e a ação, inseparáveis daqueles que dialogam, orientam-se para o mundo que é preciso transformar e humanizar, este diálogo não pode reduzir-se a depositar ideias em outro" (FREIRE, 2001, p. 69).
Portanto, o educador nesse contexto deve compreender o ato dialógico como ferramenta relevante em suas aulas, para sensibilizar os alunos, instigando-os, tornando-os transformadores de sua realidade e despertando o senso crítico. Atuando nesse enfoque, o professor assume seu papel de mediador, sendo capaz de articular as experiências dos educandos com o mundo.
O diálogo, juntamente com os laços afetivos, constituem dimensões inseparáveis no processo de aprendizagem, possibilitando ao educador intervir nesse processo de modo a aperfeiçoá-lo, relacionando sentimentos de confiança e respeito ao educando. Os conceitos de afetividade e diálogo somente serão validados se abrangerem todos os indivíduos do processo educativo, estabelecendo uma relação mútua.
Por fim, é preciso estudar a função da interação na aprendizagem, analisando os métodos em que o diálogo e a afetividade são aplicados, se eles podem transformar e mobilizar a vida dos alunos e promover a construção do conhecimento. No entanto, se o diálogo não é favorecido, apresentando-se como objeto que somente transfere conteúdos, a prática docente precisa ser revista, criticada e reavaliada, com o objetivo de alterar essa realidade.

Autora:
Rafaela Angeloni.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Artigo: A presença do diálogo na relação professor aluno - V Colóquio Internacional Paulo Freire – Recife, 19 a 22 – setembro2005.


FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 16.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.

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