O artigo relata
a interação entre professor e aluno, embasado na Pedagogia Dialógica de Paulo
Freire, considerando perspectivas literárias, psicológicas, sócio-históricas e
afetivas, a fim de entender suas influências no processo de aprendizagem.
O diálogo é um
condicionante cultural importante para a interação professor-aluno, é um
intercambio e reflexão entre os sujeitos. Segundo Freire, o dialogo “nutre-se
de amor, humildade, esperança e fé”. Dessa forma, essa interação entre diálogo
e afetividade resulta em respeito aos alunos, como indivíduos. A afetividade
influencia na formação do caráter, constitui a base das relações das pessoas
durante a vida. Portanto, os laços de afetividade são fundamentais na relação
professor-aluno, importantes e necessários no processo de ensino-aprendizagem.
A aprendizagem
através do diálogo não ocorre de forma espontânea, pois exige que o professor
tenha conhecimento da turma e implica que as pessoas estejam abertas a novas
formas de pensar, ver o mundo. A fim de que a aprendizagem ocorra de forma
significativa, o professor deve reconhecer sua função na interação com os
alunos: apresentar condições favoráveis para a construção do conhecimento,
partindo de saberes prévios dos alunos; incentivar o aluno, estimulando o
autoconceito; respeitar as limitações dos alunos, favorecendo uma relação
pautada no respeito mútuo.
A relação
professor-aluno centrada no autoritarismo, na ameaça, controle e punição
provocam resultados opostos aos defendidos pelos princípios democráticos. Esses
princípios favorecem aos alunos agir com autoconfiança, autoestima,
autocontrole e capacidade de iniciativa autônoma. Nesse contexto, o professor
deve saber fazer o uso da autoridade na sala de aula. Ao cobrar obediência,
aplicando vontades e valores próprios, resultará em sentimentos de medo por
parte dos alunos.Ao manter relação de respeito mútuo, terá autoridade por
competência. Dessa forma o professor será capaz de solucionar conflitos
pedagógicos por meio das relações fundamentadas no diálogo.
No primeiro
contato de interação, com apoio nas observações, os professores desenvolvem
expectativas sobre o rendimento dos alunos. Com a intensidade das interações no
decorrer do período escolar, as expectativas podem ser mantidas ou reforçadas.
Reforçadas quando as atuações são estáveis com as expectativas, e modificadas
quando não são estáveis.
A distinção no
tratamento educativo dos alunos, considerando a influência e controle maior no
caso de “alunos bons” do que no caso dos “maus alunos”, estão determinadas no
maior ou menor grau de atenção, nas oportunidades de aprendizagem, no tipo de
atividade proposta e na quantidade e dificuldade do conteúdo. Nesse contexto, surgem
os elogios e as críticas, para incentivar ou inibir o comportamento. O uso de
elogios deve ser praticado de forma efetiva, apresentando-se coerente ao bom
desempenho do aluno ou não produzindo efeito, quando usado indiferentemente.
Os alunos
apresentam reações aos diferentes tratamentos educativos, confirmando as
expectativas dos professores, aprendendo mais quando os educadores estimulam o
desempenho. As expectativas dos professores atingem a aprendizagem,
independendo da capacidade do educando.
As influências
do comportamento de na relação professor-aluno merecem atenção especial, mesmo
com tantos fatores extremos e internos presentes no processo educativo. As
interações nessa relação são afetadas por representações recíprocas, não
podendo ser restritas apenas ao processo cognitivo de construção do
conhecimento, pois envolvem dimensões afetivas. Dessa forma o processo
educativo é interativo, realizado entre professor e aluno, aluno e conhecimento,
sendo o professor relevante no processo, mediador do conhecimento.
Diante do
exposto, desenvolver pesquisas com a finalidade de entender as interações na
sala de aula, auxiliam nas decisões e medidas para prevenir problemas
educacionais e melhora a formação de profissionais. Considerando que a relação
professor-aluno é influenciada por elementos sócio-históricos, como a oposição
entre a fala impositora e a fala dialógica e as relações afetivas, durante o
processo educativo, pesquisas revelam que a presença do diálogo no processo de
aprendizagem é limitada a transmissão de conteúdos.
Levando em
consideração que o diálogo é um fenômeno humano que busca refletir e mobilizar
a ação dos indivíduos, a prática por meio do diálogo no processo educativo só é
possível se o educador acreditar que essa prática “é o encontro no qual a
reflexão e a ação, inseparáveis daqueles que dialogam, orientam-se para o mundo
que é preciso transformar e humanizar, este diálogo não pode reduzir-se a
depositar ideias em outro" (FREIRE, 2001, p. 69).
Portanto, o
educador nesse contexto deve compreender o ato dialógico como ferramenta
relevante em suas aulas, para sensibilizar os alunos, instigando-os,
tornando-os transformadores de sua realidade e despertando o senso crítico.
Atuando nesse enfoque, o professor assume seu papel de mediador, sendo capaz de
articular as experiências dos educandos com o mundo.
O diálogo,
juntamente com os laços afetivos, constituem dimensões inseparáveis no processo
de aprendizagem, possibilitando ao educador intervir nesse processo de modo a aperfeiçoá-lo,
relacionando sentimentos de confiança e respeito ao educando. Os conceitos de afetividade
e diálogo somente serão validados se abrangerem todos os indivíduos do processo
educativo, estabelecendo uma relação mútua.
Por fim, é
preciso estudar a função da interação na aprendizagem, analisando os métodos em
que o diálogo e a afetividade são aplicados, se eles podem transformar e
mobilizar a vida dos alunos e promover a construção do conhecimento. No
entanto, se o diálogo não é favorecido, apresentando-se como objeto que somente
transfere conteúdos, a prática docente precisa ser revista, criticada e
reavaliada, com o objetivo de alterar essa realidade.
Autora:
Rafaela Angeloni.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Artigo: A presença do diálogo na
relação professor aluno - V Colóquio Internacional Paulo Freire – Recife, 19 a
22 – setembro2005.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia.
16.ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.
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