quarta-feira, 2 de março de 2016

RESENHA: Biografia Paulo Freire.


RESUMO
Um dos principais nomes da educação da atualidade, Paulo Freire destaca-se por sua metodologia educacional interacionista, entre professor, aluno e meio social. Recebendo várias críticas, o “Modelo Paulo Freire” é utilizado até hoje como referencial de qualidade educacional, por seu caráter revolucionário, que resultou no o exílio de seu criador, tornando-o conhecido mundialmente. O objetivo deste trabalho é apresentar, de forma resumida e de fácil entendimento, um pouco da trajetória de um dos marcos da educação nacional e internacional, conhecendo um pouco mais as bases epistemológicas do autor.
Palavras-Chave: Pedagogia, Paulo Freire, Psicologia.

1. DADOS BIOGRÁFICOS
Considerado um dos maiores pensadores sobre a educação da atualidade, recebendo inclusive o título de “Patrono da Educação Brasileira”, Paulo Reglus Neves Freire (Paulo Freire) nasceu na capital de Pernambuco, Recife, no dia 19 de setembro de 1921, e morreu em São Paulo, capital, no dia 2 de maio de 1997, aos 75 anos, de ataque cardíaco, após sofrer uma complicação médica numa operação de desobstrução de artéria.
Filho de Joaquim Temístocles Freire, capitão da Polícia Militar de Pernambuco e de Edeltrudes Neves Freire, dona de casa, Freire viveu com três irmãos Stela, Armando e Temístocles. Nasceu em uma família de classe média que sofreu os impactos da grande depressão de 1929, o fez vivenciar a pobreza e a fome. A experiência com a pobreza o fez se dedicar ainda mais em ajudar os pobres a se libertarem dessa condição social, dando o principal impulso para o desenvolvimento de seus métodos de ensino.
Em 1943 Freire ingressou na Universidade de Recife, cursando Direito, mas a sua facilidade com a escrita e o gosto pela filosofia o fizeram mudar de ramo, trabalhando como professor de língua portuguesa. O cristianismo influenciou muito sua vida e forma de pensar, apesar de que muitas de suas críticas se embasavam nos contrastes provenientes dos privilégios sociais.
A primeira experiência educacional de Paulo Freire começou em 1962, no Rio Grande do Norte, onde conseguiu alfabetizar trezentos trabalhadores do campo em 45 dias, gerando um impacto tão grande que o governador de Pernambuco iniciou um trabalho semelhante nas favelas do estado. Logo em seguida, o Governo Federal organizou um projeto semelhante que visava alfabetizar cerca de dois milhões de adultos por ano.
Em 1964 fez parte do MCP (Movimento de Cultura Popular) do Recife, quando o governo militar considerou seus métodos de ensino subversivos, devido aos ideais de libertação intelectual e crítica a exploração dos pobres, sempre presentes em suas técnicas de ensino e pensamentos. Paulo foi exilado, vivendo catorze anos no Chile, e posteriormente, recebendo o titulo de “cidadão do mundo”.
Em 1970, na Suíça, fundou oIdac, que prestava assessoria para vários movimentos sociais, como sindicatos italianos, movimentos feministas suíços, alfabetização de adultos da Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola, São Tomé e Príncipe (Continente Africano) e Nicarágua (América Central).
Mesmo com o exílio de Freire, suas técnicas de ensino ainda que destorcidas, eram empregadas no país. Em 1967 os militares criaram o Mobral, que trabalhava técnicas de alfabetização, excluindo a integração social e o processo de conscientização do aluno. Este método falhou drasticamente.
Paulo Freire voltou do exílio em 1980 e retomou suas atividades de escritor e debatedor. Assumiu cargos em universidades e foi secretário municipal da Educação de São Paulo, entre 1989 e 1991, conferencista renomado em vários países, tendo suas obras traduzidas em diversas línguas.
Por fim podemos dizer que com suas magníficas teorias e métodos educacionais, intimamente ligados a suas experiências de vida e busca por melhores condições sociais, Paulo Freire tornou-se uma inspiração para gerações de professores, especialmente na América Latina e na África. O talento como escritor o ajudou a conquistar um amplo público de pedagogos, cientistas sociais, teólogos e militantes políticos, quase sempre ligados a partidos de esquerda.

2. PRINCIPAIS OBRAS
Seu primeiro livro, “Educação como Prática da Liberdade”, de 1965, ainda tinha forte influência do idealismo católico, diferente de “Pedagogia do Oprimido”, de 1970, e a “Pedagogia da Esperança”, de 1992, que tem uma abordagem voltada para fatores econômicos, políticos e sociais. Também escreveu “Cartas à Guiné-Bissau” e “Vivendo e Aprendendo”, antes de ser exilado (ambos os livros possuem caráter motivacional e críticos, sempre favorecendo as classes exploradas).
Em “Pedagogia do Oprimido” e “Pedagogia da Esperança”, entendidas por muitos intelectuais como seus principais escritos, é possível observar claramente as tendências marxistas do autor, e compreender o que levou o mesmo a ser exilado durante a ditadura militar.
Ambas as obras partem do principio de que vivemos em uma sociedade dividida em classe de opressores e oprimidos (ou burgueses e proletários, na leitura de Marx) e que os privilégios da classe dominante impedem os dominados de desfrutar dos bens produzidos pela sociedade.
Um dos bens citados é a educação básica, a qual é negada a grande parte da população. Por isso, Freire refere-se a dois tipos de pedagogias: a do dominante (educação como prática de dominação) e a do oprimido (prática de libertação).
O pedagogo resalta as dificuldades de se instaurar um novo modelo pedagógico, entre os principais problemas estão: o oprimido “hospeda” o opressor dentro de si, se desvalorizando (atitude fatalista, aceita a sua sina);e a vontade do oprimido em se tornar o opressor. É importante ressaltar que, para o autor, não são todos os que ostentam o papel de dominante que conhecem seu papel social, muitos entendem esta divisão social como algo natural, e não fruto de uma dominação premeditada.
Por fim, Freire entende que o fim da dominação deve partir do oprimido (assim como Marx entende que o fim da desigualdade capitalista vem do proletário) e que esta só será atingida quando as práticas pedagógicas partirem dos oprimidos e promoverem a “práxis da reflexão e ação dos homens sobre o mundo para transformá-lo, superando as contradições entre opressor-oprimidos”.

3. PRINCIPAIS CONCEITOS PEDAGÓGICOS.
Em sua obra, “Pedagogia do Oprimido”, Paulo Freire afirma que “A narração, de que o educador é o sujeito, conduz os ‘educandos’ à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda (...) os transforma em ‘vasilhas’, em recipientes a serem ‘enchidos’ pelo educador”.
Freire denomina esse tipo de pedagogia (a tradicional) como “bancária”, onde o professor “deposita” o conhecimento em seus alunos e “saca-o”por meio de avaliações. Nessa prática, esse tipo de educação é “verbalista”, voltada para a transmissão e avaliação de conhecimentos abstratos, ficando clara a passividade do educando, sendo o objeto da educação, enquanto o professor assume o papel de sujeito.
Indo contra esse modelo tradicionalista pedagógico, Paulo Freire defende a educação “Problematizadora”, baseando-se em um processo que se estabelece contato da pessoa com o mundo vivido, de forma dinâmica e transformadora (autonomia intelectual do aluno com relação à problemática social).
O contato entre Professor e aluno (educador e educando) supõe o “método de troca” (pedagogia interacionista), em que ambos aprendem mutuamente. Este método pedagógico permite desenvolver um pensamento crítico e reflexivo em ambas as partes, possibilitando aos envolvidos desenvolver métodos que modificam os parâmetros sociais pré-desenvolvidos.
Podemos observar que as técnicas educacionais “Paulo Freirianas” estão diretamente ligadas ao atual, ao factual, e vinculam conhecimentos clássicos a necessidade dos “educandos” em aprendê-los para possibilitar sua emancipação intelectual e social.

4. MODELO PAULO FREIRE.
O “Modelo”, ou “Método Paulo Freire”, muitas vezes é visto erroneamente, apenas como uma técnica de alfabetização, diminuindo o trabalho, principalmente reflexivo, das obras do educador.
Criticava as “cartilhas”, que trabalhavam com temas fora da realidade dos alunos. Entendia que, no Brasil, existiam diferenças culturais gritantes, principalmente nas áreas urbanas e rurais, além das culturas regionais, e todo o processo educacional deveria estar ligado a estas.
Freire dizia que, inicialmente, era preciso ter um levantamento do vocabulário dos alunos e, em seguida, organizar os currículos de cultura coordenados por um professor ou um companheiro alfabetizado. O processo de conscientização para atingir a alfabetização é fundamental para instruir os adultos (o que está sendo ensinado deve fazer sentido para eles).
O professor assume um papel de “animador” no processo de ensino-aprendizagem, deixando de lado a figura autoritária dos modelos tradicionais, valorizando a aprendizagem por meio de “discussões em grupo” e, quando necessário, ao trabalhar com textos, prefere que o próprio educando o redija, proporcionando um trabalho direcionado à “democratização do ensino”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Paulo Freire apresenta-se como diferencial da educação em sua época por alguns motivos, como: sua ideologia que mescla o tradicionalismo cristão aos revolucionários preceitos marxistas; suas técnicas educacionais libertadoras; e sua mescla de elementos ideológicos, sempre voltados aos interesses do coletivo e pela emancipação do indivíduo e das classes social denominadas por ele como oprimidas.
Talvez por ter origens de uma família de classe média que sofreu com a crise econômica de 1929, seu elo com as classes baixas tenha aumentado ainda mais, pois sentiu na pele o que muitas pessoas sofrem diariamente. Sua educação nunca foi deixada de lado pelos seus pais (provavelmente sabiam que para atingir o status social de outrora tinham que investir na educação dos filhos), isso facilitou ao pedagogo e advogado desenvolver um grau de cultura invejado por muitos e, com este, desenvolver técnicas e métodos de ensino que são referência até hoje, em países que possuem os maiores índices educacionais de nosso planeta.
Devemos sempre lembrar que Freire defendia o caráter “libertador da educação”, e a liberdade defendida por ele está tanto no intelecto, na construção de ideias, na aprendizagem de conhecimentos clássicos, quanto na emancipação do indivíduo e da classe oprimida.
Paulo Freire foi considerado subversivo pelos membros da ditadura, e de fato foi, pois sua postura como educador foi contra qualquer tipo de opressão, o que desagrada qualquer classe dominante. Freire é para nossa educação o que Marx foi para a política mundial, um modelo ideológico para os explorados, um diferencial de conduta para todos que buscam desfazer as amarras da exploração.

Autor
Rodrigo Bastos

REFERÊNCIAS BIOGRÁFICAS.

Visto em (24/10/2013)

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação e da pedagogia: geral e Brasil.3ª ed. – ver. eampl. – São Paulo: Moderna 2006.

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